Bem, eu havia deixado de postar nesse
espaço. Não por preguiça, ou por qualquer motivo do tipo. Eu simplesmente não
me sentia bem. Não queria fazer algo engessado, postando apenas questões
superficiais, mas por outro lado também não queria expor minhas angústias. Dei
um tempo e estou retornando para relatar como foi esse período.
Estou á duas semanas sem dar aulas no
Érico, devido ao conselho de classe e ao feriado. Nesse tempo senti uma quebra,
sei que teremos que retomar algumas questões.
Voltando algumas semanas...
As aulas estavam "indo muito
bem". Tudo muito calmo com aquela turma que todos os professores tentam me
convencer de que não é fácil. Comecei a tentar entender o porque dessa
situação, em minhas aulas havia participação de todos, até mesmo dos que eram
tachados de bagunceiros. Bem, eles fazem uma grande algazarra sim, mas ela é
tão produtiva... que eu me sinto realmente bem com aquela turma.
Durante as semanas que passaram
finalizamos a proposta das estampas a partir das letras de músicas.
Estavam todos muito envolvidos a
partir da primeira aula em que começaram a desenvolver a proposta, mas como ficamos
4 semanas trabalhando na mesma atividade, alguns dos estudantes acabaram se
perdendo no processo e fazendo os trabalhos superficialmente, de maneira que
acabassem logo para obter a bendita nota... Dessa proposta surgiram os
trabalhos abaixo:
Nem todos puderam terminar os trabalhos em aula, então propus que
fizessem em casa e trouxessem na próxima semana. Todos sabemos o que aconteceu:
ninguém fez o trabalho em casa. Não dei continuidade pois a proposta estava se
arrastando à um mês e eu percebia que estávamos apenas desenvolvendo uma
prática sem reflexão alguma. Dessa forma estabeleci a entrega para os que não
tinham acabado para a próxima semana e segui com os planejamentos...
Como estávamos tratando de música, propus que os estudantes falassem
sobre as músicas que ouvem, os gêneros musicais, e suas relações com seu
cotidiano. De princípio não conseguiam estabelecer relações (evidentes no
próprio trabalho feito nas aulas anteriores), mas questões interessantes forma
surgindo, na medida em que se criavam debates dentro da sala de aula sobre os
gêneros musicais.
Na medida em que iam expondo suas preferências e suas críticas sobre
gêneros musicais se estabelecia um debate acerca dos diferentes gostos, das
concepções que tinham:
- Não gosto de funk, as letras são horríveis.
-Bem eu gosto de funk, e não é pela letra, mas pela batida.
- Pagode é coisa de favela, a televisão diz isso.
- Gosto de rap, tem haver com a minha vida, fala de coisas que eu vivo.
Essas são apenas algumas das questões que surgiram. Porém esse debate
criado ficou no que eu pude entender mais tarde como a primeira etapa do ensino
problematizador, o qual eu me proponho a desenvolver.
O Ensino Problematizador advém de uma vertente de
crítica ao sistema de ensino tradicional, e busca desenvolver um processo de
ensino-aprendizagem baseado em três ações fundamentais que são: a identificação
de um problema, o entendimento do problema e a busca de soluções para ele.
No caso identificamos um problema que é a divergência de opiniões sobre
os gêneros musicais, mas os estudantes não perceberam ainda que há um certo
preconceito deles sobre os gêneros musicais que os colegas gostam ou não. Dessa
forma então pensei em como evidenciar para eles que seu pensamento poderia ser
menos fechado e que poderiam pensar de outra forma, a fim de entender a posição
dos colegas.
Para isso eu precisaria evidenciar esse preconceito.
Levei então a eles, por sugestão da Marli, que está orientando meu
projeto, imagens de obras de arte e pedi que relacionassem as imagens com os
gêneros musicais da coluna ao lado justificando essa relação.
O trabalho ainda está em andamento, e junto dele os estudantes estão
montando uma colagem, na qual eles representam os Gêneros musicais que gostam
ou não... Na ultima aula eu propus que pensassem em imagens que representassem
esses gêneros musicais. Na próxima aula iremos discutir o que já foi feito,
falaremos sobre a relação que estabeleceram entre as obras e os gêneros, e
dessa forma veremos se suas concepções podem mudar ou não. A sequência será
dada a partir de uma retomada dessa colagem, de modo que possam introduzir nela
suas novas opiniões (que podem ser diferentes ou iguais às iniciais).
O tempo em que parei de escrever nesse espaço estive escrevendo sobre as
aulas em um outro formato: minha monografia. Muito diferente, pois lá não
descrevo meus sentimentos...
E o que estou sentindo...
Nunca pensei em ser professora (nem mesmo aos seis anos de idade quando
minha professora da primeira série me disse que eu não seria outra coisa senão
professora). Me vi em situações difíceis, e que em todo tempo eram ocasionadas
por mim mesma. Pisei no freio, me tornei menos ansiosa e deixei as coisas
acontecerem naturalmente. E nesse tempo tive medos, mas procurei enfrentá-los
de forma serena e tranquila. O resultado: Hoje dou aula para a turma a qual
dizem ser problemática, e não tenho reclamação nenhuma deles. São excelentes
alunos, participativos, alguns nem tanto, mas fazem pelo menos mais que o
mínimo.
Já até cheguei a pensar que o problema pudesse ser eu, talvez eu não
estivesse sendo rigorosa o suficiente... mas depois da ultima aula percebo que
não. Quando uma aluna me mandou tomar naquele lugar, eu não senti ódio dela e a
mandei para a direção, eu a entendi, e tentei fazer com que ela me entendesse.
Fazer com que ela entendesse que as suas notas eram sua responsabilidade, e que
eu não poderia fazer nada por ela, era ela quem deveria querer melhorar. O
resultado, em menos de 3 minutos ela me pediu
desculpas espontaneamente e disse que entendia... e tudo ficou bem. E
eu penso, porque era tão difícil eu entender isso à um ano atrás?
Por medo, insegurança... Medo de gostar de ser professora, insegurança
de agir naturalmente...
Ainda sinto um vazio nas aulas, uma sensação de que eles não estão
aprendendo nada... mas ela está diminuindo... Estou tendo mais coragem de
levantar questionamentos em aula e ter paciência para que comecem a se manifestar...
e as coisas andam devagar, mas andam....
BOA SEMANA A TODOS!!!
Fran, que bom te ver de volta com tantas coisas pra contar!
ResponderExcluirDestaco três coisas que me chamaram atenção no teu relato: 1º Acho muito honesto quando temos coragem para provocar algumas rupturas em nossas aulas ao vermos que as coisas não estão andando, como tu fizeste com a questão das estampas que tu nos relata... 2º Fiquei muito curioso para saber quais imagens (obras de arte) tu levaste para dialogar com os gêneros musicais e 3º No momento que tu propuseste que os estudantes pensassem em imagens para 'representar' os gêneros musicais, é realmente com 'representação' que tu estás trabalhando? Não seria mais interessante falar de um tensionamento, ou de um diálogo, de conexões entre essas imagens e esses gêneros?
Oi Cris... bem, as imagens que levei foram diversas, desde o Leonardo da Vinci até artistas contemporâneos como Os Gêmeos, quando a atividade estiver encerrada irei postar as imagens aqui e também os comentários dos estudantes, que estão sendo bem interessantes.
ResponderExcluirBem quanto a representação, ehehehehe, sempre uso essa palavra sem pensar muito bem no seu significado... tens razão, talvez sejam conexões que eu esteja tentando desenvolver...